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AL Gore ataca outra vez

"O Ataque à Razão" (The Assault on Reason)

O guru do aquecimento global agora centra fogo em seu antigo rival, o presidente americano George W. Bush




O ex-vice-presidente americano Al Gore viveu uma reviravolta espetacular nos últimos anos. Uma década atrás ele era considerado unanimemente um chato e se tornou alvo de gozação nacional com o embaraçoso trocadilho Al Bore -- em referência explícita aos bocejos que seu discurso costumava causar. Hoje ainda há quem use o apelido. Gore, no entanto, está longe de levar o estigma de perdedor. Afastado dos cargos públicos desde que perdeu a acirrada disputa pela Casa Branca para George W. Bush, em 2000, o político com carisma zero subitamente ganhou a aura de astro e guru. O atual missionário contra o aquecimento global já fez mais de 1 000 palestras mundo afora em favor do planeta depois que lançou o best-seller Uma Verdade Inconveniente. O ápice veio em março deste ano, quando Gore pisou no tapete vermelho para receber o Oscar pelo documentário homônimo, protagonizado por ele mesmo. Agora ele aproveita o bom momento para tripudiar sobre um antigo rival -- George W. Bush, que atravessa o pior período de popularidade de sua história. Bush é o alvo de seu recém-lançado livro O Ataque à Razão, que será publicado em português, em julho, pela editora Manole. A obra lidera a lista dos livros de não-ficção mais vendidos do jornal The New York Times.

O próprio título e a ausência de ilustração na capa do novo livro o tornam, à primeira vista, quase enigmático. Mas basta folhear as primeiras páginas para entender que Gore desfia de maneira incansável variações do mesmo tema -- o ataque nominal a Bush e seu retumbante fracasso na invasão ao Iraque. A tese principal é que a razão tem um papel lateral na condução das decisões políticas mais importantes tomadas hoje nos Estados Unidos. Sobra bala para todos os congressistas e até para os gigantes da mídia. Gore mostra que os políticos americanos, por exemplo, estão mais preocupados em arrecadar fundos para as campanhas do que em debater questões relevantes para o país, como a legitimidade do ataque ao Iraque. Os programas de TV e os jornais também estariam mais entretidos com o mais recente desatino da cantora Britney Spears (qualquer que seja ele) do que com as implicações da guerra. A conclusão é que a democracia americana está tão ou mais em risco do que o planeta.

Gore mostra que Bush não é o bobalhão que a maior parte de seus críticos gosta de pintar -- e sim alguém capaz de manipular de maneira quase maquiavélica um discurso falacioso que escondia suas verdadeiras intenções com a guerra. É um discurso, aliás, permeado pelo que ele chama de inverdades convenientes. O primeiro artifício desse falatório, segundo Gore, foi instaurar o medo. O autor reconstrói o ambiente que antecedeu a invasão ao Iraque para demonstrar que Bush criou um falso clima de terror ao tornar concreta a ameaça de um ataque nuclear que não existia. Isso teria levado a nação -- num primeiro momento -- a apoiar a invasão. A política do medo, segundo Gore, faz com que boa parte dos americanos acredite até hoje que os responsáveis pelos ataques de 11 de setembro eram iraquianos. Nesse momento, o autor usa pela primeira vez uma comparação entre Bush e o ex-presidente Richard Nixon que se repete mais uma dúzia de vezes ao longo do livro. Nos tempos de Nixon, de acordo com o autor, o papel de opositor coube a seu pai, o então senador Albert Gore.

Para dar força à narrativa, Gore inclui a descrição de histórias pessoais (até viagens com sua mulher, Tipper, são mencionadas) e citações de historiadores, sociólogos e ex-presidentes como Thomas Jefferson, autor da Declaração da Independência. Todos os elementos, é claro, a serviço de uma oposição visceral a Bush. Ele dedica os últimos capítulos a estabelecer uma conexão entre o interesse dos Estados Unidos por controlar o acesso ao petróleo no Oriente Médio e a real intenção do governo ao invadir o Iraque.

O novo livro pode ser interpretado como uma lista de motivos pelos quais ele -- e não Bush -- deveria ter sido eleito há sete anos. Ao levantar tantas bandeiras, Gore no fundo parece estar levantando sua própria, embora já tenha negado várias vezes seu interesse em concorrer mais uma vez à Casa Branca. Apesar de estar oficialmente fora do páreo, Gore já foi aclamado até por gente como Steve Jobs, o criador da Apple. Jobs disse que Gore deveria se candidatar. E que, se concorresse, seria eleito. Sua maior vitória, no entanto, já aconteceu -- ganhar audiência para o que quer que ele fale.


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Fonte:


Por Cristiane Mano
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Outro livro do autor:


"Uma Verdade Inconveniente"


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